sábado, 3 de outubro de 2009

Imigração Japonesa

sábado, 5 de janeiro de 2008, 14:35


Paraná oriental

Várias cidades da região exibem olhos rasgados em grande quantidade
Giedre Moura
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Réplica de uma casa rural usada por imigrantes em Assaí: cidade tem grande número de descendentes
Rafael Mayrink Goes/AE
Réplica de uma casa rural usada por imigrantes em Assaí: cidade tem grande número de descendentes

SÃO PAULO - O norte do Paraná tem algumas características marcantes: altas temperaturas no verão, uma terra fértil e densa que tinge as roupas brancas de vermelho e a forte marca da cultura japonesa, estabelecida a partir dos anos 1930, quando os imigrantes começaram a chegar ao Estado. São várias as cidades da região que exibem olhos rasgados em grande quantidade, mas Assaí, a 49 quilômetros de Londrina, é especial. Surgiu unicamente em função dos imigrantes e, ao lado de Bastos (SP), é o município com maior proporção de japoneses, porcentual que chega a 15% da população.
- Aprender e reaprender o japonês
- Londrina, a cidade de madeira

A ampliação da colônia no Paraná está diretamente relacionada às restrições do plantio do café no Estado de São Paulo. Embora desde 1913 a região de Cambará já contasse com uma Vila Japonesa, foi somente após a queda da Bolsa de Nova York, em 1929, que as companhias de imigração começaram a olhar para fora do território paulista.

Com o incidente financeiro internacional, o governo paulista proibiu o plantio de pés de café e os grandes capitalistas japoneses que investiam em atividades agrícolas começaram a comprar terras no Paraná e a revender aos imigrantes. Assim, em 1932, surge Assaí, inicialmente batizada como núcleo Três Barras. A opção pelo novo nome não poderia ser mais apropriada: Assaí quer dizer sol nascente.

Assim como encontraram dificuldades ao chegar a São Paulo, os imigrantes do norte do Paraná também tiveram de exercitar a alma de desbravadores. Logo de início, o caminhão que a Companhia de Imigração Bratac utilizava para transportar pessoas, ferramentas e mantimentos foi solicitado pelo governo paulista, por conta da Revolução de 1932. A única saída era usar carroças e carros de boi, que tornavam tudo mais lento e cansativo.

Entre os anos de 1932 e 1939, chegaram 365 famílias de imigrantes a Assaí, mas não eram pessoas vindas diretamente do Japão. A grande maioria já conhecia o modo de vida brasileiro e tinha um histórico de trabalho em fazendas de São Paulo.

Esse é o caso, por exemplo, dos Koguishis, que desembarcaram no Brasil em 1930, ficaram cinco anos trabalhando nas fazendas de Cafelândia (SP) e depois foram para Assaí, precisamente para a comunidade rural do Palmital. "Meus pais nasceram em Mie-Ken, mas eu nasci aqui. Todos os meus sete irmãos e eu. No começo a vida era difícil, tinha de caminhar 10 quilômetros até o comércio mais próximo. E na mata tinha onça", recorda Cairo Koguishi, de 65 anos. "Meu avô guardava a espinha de peixe para cozinhar com o arroz, pois só tinha carne seca para comer."

Costume

A família Koguishi mora até hoje na zona rural e mantém os costumes japoneses. Na geladeira da casa não faltam moti, o bolinho de arroz tradicional do ano-novo, nem peixe para Nair Yoko, de 65, mulher de Cairo, fatiar o sashimi. Ao conversar ao telefone, o casal mistura o japonês e o português. Sem falar que Nair é uma grande artesã da jardinagem, outro forte costume do Japão.

Cairo também acompanhou a tradição da família japonesa, cursou agronomia para dar continuidade aos negócios do pai - e dois dos quatro filhos do casal seguem o mesmo rumo e atuam na propriedade. "Mas aquela coisa de japonês quieto e que não pergunta não é comigo. Eu sempre fui curiosa e tomava muita bronca dos meus pais", recorda Nair, realmente falante e enérgica.

Juventude

Manter a tradição não depende apenas dos mais velhos. Não é difícil encontrar na cidade adolescentes dispostos a perpetuar a cultura japonesa. Todos os domingos, Anderson Watanabe, de 19 anos, ajuda a coordenar os ensaios do grupo de Taikô, a percussão milenar japonesa.

"Eu nasci aqui, fui para o Japão e morei lá até os 5 anos. Tenho a cultura japonesa muito forte em mim", explica Anderson. "O Taikô é uma filosofia de vida, tem de sentir o som para fazer sentido." Fã de mangá, animê e J-Pop, a música pop japonesa, ele também prefere manter a tradição na hora de escolher as namoradas. "Não tenho nada contra as brasileiras, mas sempre olho primeiro para as japonesas."

Fonte: Estadão

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