domingo, 4 de outubro de 2009

As armas hi-tech de um ‘novo cinema’

3D, projeção digital e Imax: as salas de exibição investem para oferecer ao público a certeza de uma experiência única


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
por
Bruno Galo e Lucas Pretti
UAU! Primeira sala Imax 3D do País deve ser finalmente inaugurada no dia 16 de janeiro, em São Paulo
Divulgação
UAU! Primeira sala Imax 3D do País deve ser finalmente inaugurada no dia 16 de janeiro, em São Paulo
No início bastavam apenas algumas imagens em movimento para fascinar e surpreender a plateia. Atualmente, para envolver o público, elas precisam “pular” da tela – ao menos é essa a aposta atual dos estúdios e a esperança dos exibidores. Eis o “velho” cinema, que há anos perde público, armando-se para oferecer uma experiência – por enquanto – impossível de ser reproduzida em outro lugar.

Nos anos 50, o 3D queria tirar as pessoas da frente da televisão. Já na década de 80 ele ressurgiu por um breve período para tentar fazer frente ao “cinema em casa” que emergia com o VHS. Hoje o 3D está de volta – em uma versão digital e melhorada – para disputar a preferência do público com a instantaneidade da internet, a mobilidade dos aparelhos portáteis e a comodidade do seu lar. Não será uma tarefa fácil.

Para ter uma ideia, um norte-americano passa, em média, mais tempo navegando na internet via celular do que indo ao cinema. Os dados são de um levantamento realizado em 2007 pela Veronis Suhler Stevenson, fundo de investimentos especializado em mídia.

Além de atrair mais pessoas para o cinema, o 3D é também uma cartada dos estúdios para forçar os exibidores a aposentarem a película e aderirem de vez à projeção digital. Afinal, os mais beneficiados com os novos e caros projetores são os próprios estúdios, uma vez que é muito elevado o custo de produções que misturam imagens gravadas em película com outras geradas em computador. Assim como o custo da distribuição “analógica” dos filmes, com a fabricação e distribuição de milhares de cópias em todo o mundo.

Em contrapartida, as salas de exibição ganham com o digital maior flexibilidade de programação, podendo, caso haja procura, exibir em mais salas do que previsto um determinado filme. Além ainda da possibilidade de se tornarem verdadeiros espaços de eventos, uma vez que poderiam exibir, inclusive ao vivo, atrações como shows, jogos de futebol, etc.

No mês passado, um concerto do cantor inglês Elton John, em Paris, foi transmitido ao vivo em alta definição para cerca de cem salas em toda a Europa. Já nos EUA, em fevereiro será exibido em inúmeras salas de todo o país, ao vivo e em 3D, o All-Star Game (Jogo das Estrelas, em inglês), da NBA.

Mas mesmo que um dia possamos ver filmes 3D na televisão e deitados na cama do nosso quarto – a tecnologia para isso já existe, falta apenas ser aperfeiçoada e vendida a um preço minimamente acessível, o que deve ocorrer dentro de cinco anos –, certamente não teremos na nossa frente uma tela de 14 metros de altura por 21 metros de largura. O que, convenhamos, é um diferencial estratégico bastante considerável.

É exatamente esse o tamanho da tela da primeira sala Imax 3D do País. Existem ainda maiores em outros países. Ela deverá ser inaugurada no próximo dia 16, no Espaço Unibanco do Bourbon Shopping Pompeia, em São Paulo. A segunda está prometida para maio no Shopping Palladium, em Curitiba (PR).

Apesar de ser considerada a mais avançada experiência em cinema, a sala Imax paulistana não trabalha com projetor digital, mas com filmes em película de um exclusivo formato 15/70 milímetros – maior do que o tradicional 35 milímetros –, o que garante uma qualidade de imagem única. Nas palavras do pai da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Leon Cakoff, o Imax é “puro encantamento”.

Mas não é só de imagens impactantes e som cristalino que se faz o futuro desse “novo cinema”. Muito conforto e uma grande variedade de serviços também entram na conta. A Cinemark inaugurou no ano passado uma sala premier no Shopping Cidade Jardim que oferece serviço de “bordo”, com garçons e poltronas similares às da primeira classe de um avião. Já é possível ainda, em muitas salas, comprar ingressos com antecedência e lugares marcados via web.

Não há dúvida de que a magia do cinema se mantém, mesmo passados mais de 113 anos da sua invenção. O problema é que só magia não é mais o bastante.


Cinema perde público

4,7 bilhões
de ingressos foram vendidos nos EUA em 1947. O cinema vivia o auge, ainda antes da popularização do primeiro grande concorrente, a televisão. Em 1962, o público do cinema já havia caído quase pela metade

1,33 bilhão
de ingressos devem ter sido vendidos nos EUA em 2008 – 270 milhões a menos do que em 2002. A comparação com 1947 é ainda mais impressionante, uma vez que a população praticamente dobrou no período

275 milhões
de ingressos foram vendidos no Brasil em 1975. Havia 3.276 salas de cinema no País

89 milhões
de ingressos devem ter sido vendidos no Brasil em 2008 – 28 milhões a menos do que em 2004. O número de salas de cinema no País gira atualmente em torno de 2,3 mil

20 por cento
em média, da receita de um filme americano tem origem no cinema


Imax chega a SP

Criado na década de 70, apenas em 1994 foi aberta, nos EUA, uma sala comercial. Hoje há 320 salas espalhadas por 43 países. O valor gasto na primeira sala brasileira (cerca de U$S 1,5 milhão) daria para fazer um multiplex inteiro, com cinco ou seis salas. A abertura é no próximo dia 16, no Bourbon Shopping Pompeia.

Tela - Com 14 metros de altura por 21 metros de largura, é quase grande o bastante para preencher todo o seu campo de visão.

Projetor - Dois rolos de filmes de 70 mm passam juntos pelo projetor, na velocidade de 24 quadros por segundo. Para obter o efeito 3D, as lentes são alinhadas sobrepondo as imagens.

Som - Estéreo com seis canais que prometem um som cristalino.

Óculos 3D - Cada lente capta apenas a imagem projetada por um dos projetores.

Programação - Superproduções de Hollywood, como o novo Star Trek e Watchmen (ambos prometidos para este ano), além de documentários exclusivos, como Fundo do Mar 3D, que será exibido a partir do dia 9.


A opinião de especialistas

Adhemar Oliveira, dono do Circuito Espaço, que está trazendo o Imax
“O cinema perde público há mais de 50 anos – mas não vai morrer. Só temo que se torne nicho.”

Luiz Gonzaga de Luca, diretor da Severiano Ribeiro
“A discussão não é mais sobre quem vai pagar os projetores. O cinema que não se adaptar vai perder muito público.”

Dan Glickman , presidente da MPA
“O 3D digital é uma revolução genuína para os filmes.”

Marcelo Bertini, presidente da Cinemark
“Apesar de o público ter diminuído, os jovens ainda são a maior e mais frequente fatia nas salas de exibição. É por isso que precisamos investir em tecnologia para oferecer uma experiência mais atual.”

Edward Jay Epstein, autor de ‘O Grande Filme’
“As salas de exibição de filmes não são há muito tempo a principal fonte de renda dos estúdios. Mesmo assim o sucesso de um filme ainda é medido pela bilheteria.”

Paulo Sérgio Almeida, diretor do site FilmeB
“Em 2009, em meio aos efeitos da crise financeira mundial, as pessoas, principalmente nos EUA, devem ir menos ao cinema e passar mais tempo em casa como forma de economizar.”

Fernando Meirelles, cineasta
“Continuaremos a ver histórias contadas com imagens, mas não tenho ideia de como os filmes vão se viabilizar com a pirataria e as novas mídias. Ninguém sabe muito bem para onde a coisa vai, e a angústia é geral.”

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