Consultores dão dicas e enfatizam a importância da boa imagem pessoal
Maria Teresa Marques
“Diz-se hoje que as empresas admitem por aspectos técnicos e demitem pelos comportamentais.” A frase é da consultora de RH do Grupo Catho, Rosemary Bethancourt, para demonstrar com clareza a alta importância atualmente de um comportamento adequado no ambiente empresarial.
Não é à toa que muitas empresas, durante o processo de seleção, consultam até a página do candidato no site de relacionamento Orkut (se a pessoa estiver lá cadastrada), para conhecer o seu perfil pessoal, as comunidades de que participa, seus amigos, etc...
E isso, diz a consultora, porque há algum tempo as empresas perceberam que os aspectos técnicos são importantes sim, mas os essenciais são mesmo os comportamentais. “Porque ninguém faz nada sozinho nas empresas. O trabalho é em equipe. E há ainda os relacionamentos necessários com equipes de outras áreas. Isso, aliás, sempre existiu, mas com o tempo se foi percebendo que o lado pessoal de cada profissional poderia ou beneficiar ou prejudicar e muito o trabalho dele e de sua equipe.”
Então, a ordem é mesmo tomar muito cuidado com a imagem pessoal no dia-a-dia de seu trabalho. Nesta página, há um quadro com dicas muito práticas, relativas a várias situações, elaboradas pela equipe do Grupo Catho, que podem servir de um guia cotidiano.
Segundo Rosemary, o que o profissional tem sempre de ter em mente é que ele é observado o tempo todo, ou por chefia ou por colegas, e várias atitudes que tomar ou comportamentos que tiver serão registrados. Para o bem ou para o mal. “Principalmente nos dias de hoje em que é comum a chefia não ter sala fechada, mas estar numa das baias, muito próximo aos subordinados”, diz a consultora.
E o que seria mais grave entre as atitudes não recomendáveis? Rosemary cita, por exemplo, ter um relacionamento ruim com os colegas; a falta de ética; aceitar elogios por trabalhos que são de autoria de outro; falta de pontualidade (tanto em horário de chegada quanto em entrega de projetos); e criticar colegas em público.
Aí pergunta-se: seria o caso de um profissional ficar em dúvida se vale a pena ser correto o tempo todo, dada a concorrência forte que hoje existe em qualquer empresa? “Sim, vale”, diz Rosemary. “O profissional vai se destacar pela qualidade de seu trabalho. Porque se começar a usar artimanhas ou mentiras, uma hora a máscara cai”.
E se você quiser saber se tem um comportamento adequado, diz Rosemary, pergunte-se: Estou cumprindo o papel que a empresa espera de mim? E mais: feedbacks recebidos são ótimo meio de se saber se estamos na linha do comportamento recomendável. “Por isso, saiba receber um feedback. Saiba ouvir com objetividade, sem levar para o lado pessoal. Seja de um colega ou da chefia.”
DE OLHO NA PROMOÇÃO
O consultor de empresas Silvio Celestino, da elevo, especializada em coaching e desenvolvimento de executivos, tem algumas recomendações sobre aspectos comportamentais relacionados a quem está com diretas intenções de tornar-se gerente. E para tanto também há lições a cumprir nos aspectos pessoais. Diz Celestino: “A ideia é simples. Para que você seja um gerente, é importante que um diretor ou um presidente de empresa na sua presença viva a experiência de estar na presença de um gerente. Caso contrário, jamais irão promovê-lo, por mais competente que você seja.”
Isso significa, diz Celestino, por exemplo, alinhar estilo e vocabulário aos valores e princípios da empresa e do cargo que se almeja. A linguagem executiva, diz ele, é a dos fatos e portanto devem ser evitadas expressões cujo significado possa ser restrito a um grupo particular ou a uma época.
A postura mais adequada, para quem quer ser gerente, é incorporar características próprias do cargo um nível acima do atual, segundo o consultor. “Quando a pessoa, em seu comportamento, sua fala, seu estilo pessoal, mostrar que está pronta e tem o desejo de ser promovido, fará isso de tal forma que os responsáveis pela promoção irão percebê-la como tal.”
Dicas
Relacionamento
Seja honesto em qualquer situação que se apresente.
Nunca faça algo que você não possa assumir em público.
Seja humilde, tolerante e flexível com colegas e chefia.
Ser ético pode significar, muitas vezes, perder dinheiro, status e benefícios.
Dê crédito a quem merece. Nem sonhe em aceitar elogios pelo trabalho de outra pessoa. Cedo ou tarde, será reconhecido o autor da idéia e você ficará com fama de mau-caráter.
Pontualidade vale ouro. Se você sempre se atrasar, será considerado indigno de confiança e pode perder boas oportunidades de negócio.
Respeite a privacidade do vizinho. É proibido mexer na mesa, nos pertences e documentos de trabalho dos outros. Devolva logo o que pedir emprestado.
Faça o que disse e prometeu. Quebrar promessas é algo imperdoável.
Ao telefone
Dê toda a atenção à pessoa que ligou. Nada de mascar chicletes, comer ou fazer qualquer tipo de barulho. A pessoa do outro lado linha pode achar que você não está lhe dando a devida atenção
Em hipótese alguma chame o cliente de “querido”, “meu bem”, “benzinho”.
Ao atender a telefonemas alheios, anote o recado. Escreva o nome da pessoa que ligou, o número do telefone, o assunto e a hora. Com letra legível, é claro.
Evite, ao máximo, atender ao telefone durante uma reunião - a não ser que a ligação seja extremamente importante. Isso também vale para celulares, que devem ser desligados antes de o encontro começar.
Não faça ligações pessoais demoradas, principalmente se for namorar.
Nem pense em brigar com filhos ou parentes pelo telefone.
Retorne as ligações, mesmo que você não conheça quem deixou recado.
Todos estão sujeitos a ter de atender a um telefonema com alguém ao lado. Quando for inevitável, procure fazer com discrição. Nada de gestos, caretas ou comentários tapando o bocal. Pega mal.
E-mail
O mais importante é nunca, mas nunca mesmo, escrever algo que possa constrangê-lo depois. Evite intimidades e só escreva em um e-mail aquilo que você falaria pessoalmente para a pessoa.
Verifique sempre a gramática e a ortografia do texto antes de enviá-lo. Nada pior do que um texto cheio de erros.
Seja breve, claro e objetivo. Hoje em dia, ninguém tem tempo para ler textos extensos demais ou ficar pensando em palavras fora de contexto.
Nada de mandar correntes, piadas - obscenas ou não - e pegadinhas por e-mail para quem não conhece.
Com a chefia
Procure ter um perfil claro da forma de ser e trabalhar do chefe. Converse com quem já foi subordinado a ele. Essas informações ajudarão a guiar suas atitudes e reações.
Por mais que ele permita uma relação de proximidade, imponha (sutilmente, claro) limites. Quando surgirem problemas, tanto você quanto ele podem adotar um tom pessoal demais na discussão. O que pode ser um erro, já que a corda sempre cede do lado mais fraco. Ou seja, o seu.
Caso tenham afinidades ou amigos em comum, não há mal algum em fazer comentários pessoais. Mas seja discreto e tome cuidado para não parecer inconveniente nem puxa-saco.
Se o chefe fizer a linha tirano, seja polido. Tentar uma intimidade forçada é uma humilhante perda de tempo.
Reconheça os erros, mas não exagere no arrependimento nem na culpa. A fala correta é: “Não foi um erro intencional, isso não vai ocorrer de novo e vou remediar o acontecido”.
Jamais diga a palavra “problema” para se referir a algo desfavorável. Dá a impressão de que você não consegue controlar a situação.
Bilhete azul
Demissão de um colega: Só se manifeste quando ele puxar o assunto. Diga o quanto lamenta e faça um comentário construtivo, tal como: “Você é um bom profissional, logo se recolocará”. Seja solidário, mas não exagere para não criar um clima de “motim” na equipe.
Ao pedir demissão: comunique sua decisão à chefia com antecedência. Deixe claro que está saindo não por insatisfação (por mais que seja verdade), mas por desejar novos desafios. Diga ao empregador e aos colegas o quanto foi bom trabalhar com eles e, se fizerem festa de despedida, escreva uma carta de agradecimento. Jamais fale mal do antigo empregador. Você pode precisar dele no futuro.
Ao ser demitido: receba a notícia com dignidade. Perder a cabeça com reações de pânico ou raiva não resolvem a situação. Procure saber o motivo da demissão. Se perceber a chance de reverter a situação (o que é raro), argumente. Senão, reflita sobre as razões de sua dispensa para melhorar seu desempenho no futuro. Comente a demissão com, no máximo, um ou dois colegas íntimos. Cuidado com observações levianas, que podem atrapalhar uma indicação. Recolha suas coisas o mais rápido possível e discretamente.
Maldades e fofocas
Afaste-se das fofocas e maledicências. Só o fato de prestar atenção nelas pode lhe dar a fama de fofoqueiro. .
Não seja inconveniente, aparecendo em outros setores da empresa sem ligar antes só para fazer um “tricô” rápido.
Caso tenha uma grande amizade no trabalho, seja discreto. Nunca comente na frente de outros colegas os programas que você e o amigo fizeram no final de semana, pois isso desperta ciúme e compromete a imparcialidade de qualquer decisão ou trabalho que você tenha ou faça em relação a seu amigo.
Deixe bem claro que é adepto do ditado “amigos, amigos: negócios à parte” e evite trabalhar em parceria com um grande amigo. Além de dar impressão de protecionismo, a relação pode comprometer o serviço e dificultar a solução de problemas.
Não comente com qualquer um os seus resultados positivos, prêmios e novos projetos que lhe foram confiados.
Caso trabalhe com alguém de quem não gosta, troque cumprimentos, mantenha distância e não comente a antipatia que sente. Isso reduz atritos e evita que os outros reparem a incompatibilidade e façam fofocas.
Em uma reunião
Para a reunião começar mal, basta chegar atrasado. Além de irritar quem chegou na hora, sua imagem fica péssima.
Normalmente, o chefe se senta à cabeceira da mesa. O ideal é conseguir sentar ao lado dele. Assim, você dá a entender que conhece seu lugar, demonstra apoio e deixa claro que não o ameaça.
Ler e pesquisar sobre o assunto em pauta vai deixá-lo em vantagem sobre aqueles que não se prepararam.
Entrar numa reunião mudo e sair calado não é a melhor estratégia para seu chefe notá-lo.
Fale sobre suas idéias e, quando achar que deve discordar, não se acanhe. Apenas faça isso sem causar constrangimento e sem ofender os colegas.
O chefe deve ser o primeiro e o último a falar. Ou seja, é ele que abre e fecha a reunião.
Ao fazer um comentário, apresentar uma idéia ou sugestão, seja claro e objetivo. Resuma ao máximo o que tem a dizer para não tornar a reunião longa.
Olhe para os outros quando estiverem falando para mostrar interesse. Não baixe os olhos para a mesa.
É importante manter a postura durante uma reunião. Evite ficar andando de um lado para outro na sala enquanto estiver expondo uma opinião ou uma apresentação. Os participantes vão achá-lo um exibicionista.
Amor e trabalho
Você e um colega se apaixonaram: se a empresa não proíbe namoro entre funcionários e vocês são desimpedidos, não esconda, pois os colegas desconfiam, descobrem e fofocam.
Na empresa, evite os apelidos carinhosos e telefonemas melosos. Nada de “fofo”, “lindinha” e “neném”.
Bilhetinhos e e-mails amorosos, que possam cair em mãos erradas, também estão fora de cogitação.
Não constranja os colegas nem cause falatório criando situações para ficar a sós com seu amado ou sua amada.
Se brigar com ela (ele), deixe a cara fechada e a reconciliação fora da empresa. Seu romance não é novela, para ser acompanhado capítulo a capítulo.
Não policie os horários da sua parceira (o) e muito menos crie empecilhos para que ele (ela) almoce com colegas ou superiores sob o argumento “você não liga mais para mim”. Isso pode prejudicar a carreira dele(a).
Você e o chefe se apaixonaram: em muitas empresas, trata-se de amor proibido. Vocês podem tentar escondê-lo por um tempo, mas correm sérios riscos. Do ponto de vista ético, o melhor a fazer é pedir, rapidamente, uma transferência de departamento, já que o romance pode comprometer o trabalho. Se não for possível uma transferência, a saída mais correta é um dos dois pedir demissão. Durante o período de impasse, ajam com absoluta discrição. Os fofoqueiros de plantão adoram comentar sobre situações como essa.
Paixão por alguém casado: Em casos assim, trata-se de nitroglicerina pura. Se o romance se tornar público, amor, trabalho e família viram um grande imbroglio e isso é péssimo para a carreira.
Se decidir sair de casa, comunique, sem revelar detalhes, a mudança de endereço e o novo telefone para a secretária do setor. E avise seu chefe sobre sua separação. Evite comentar o assunto em voz alta e não transforme seu drama em tema de debate no fumódromo. Se não conseguir disfarçar o sofrimento, invente uma desculpa. Diga que está doente ou que um parente querido morreu recentemente.
fonte: O Estado de São Paulo, Oportunidades, Domingo, 11 janeiro de 2009
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