domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ria com os chutes sobre o futuro do iPad

14/2/2010
Ria com os chutes sobre o futuro do iPad
A massa de comentários contraditórios sobre o futuro do iPad - o novo computador, e-reader e tablet da Apple - nos sugere uma boa reflexão sobre o risco das previsões entusiásticas ou pessimistas sobre o futuro das inovações. A propósito, me vem à mente a advertência de um cientista e escritor famoso: Arthur C. Clarke, que disse, em 1995, com sua fina ironia: "É muito arriscado fazer previsões. Especialmente sobre o futuro".
A reportagem é de Ethevaldo Siqueira e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 14-02-2010.
Nas duas últimas semanas, jornalistas oniscientes previram um futuro medíocre para o iPad, ridicularizaram o produto e apelidaram-no de iPodão ou iPhonão. Em sua avaliação, o iPad foi uma decepção completa e o produto, provavelmente, não fará nenhum sucesso.
Outros notaram até uma ponta de desencanto na plateia, em São Francisco, a cada característica anunciada por Steve Jobs, o presidente e fundador da Apple.
No extremo oposto, uma minoria prevê que o iPad será um sucesso comparável ao do iPod ou do iPhone. Mais do que isso: poderá até salvar os jornais, livros e revistas. Divirto-me tanto com os pessimistas amargos quanto com os otimistas retumbantes.
Minha opinião? Acho o iPad sensacional. Eu compraria um amanhã cedo. Isso não quer dizer que será um sucesso imediato. Por ser uma quebra de paradigma, ele exige que as pessoas aprendam a gostar dele, mas lentamente.
Não tenho dúvida: daqui a dois ou três anos, ele talvez seja um sucesso e bata a maioria dos leitores eletrônicos (e-readers) lançados no mercado até aqui. O que prevejo é que, a cada seis meses, ele tenha versões cada vez mais incrementadas, com tela de LED orgânico (OLED), comunicação 3G avançada, câmeras para foto e vídeo, celular embutido para comunicação de voz, além de conteúdos e aplicativos apaixonantes.
Sua tela colorida, sensível ao toque (touchscreen), é mais avançada do que a do iPhone e responde com maior rapidez aos gestos e movimentos de nossos dedos. Amplia e reduz textos e imagens, empilha, arrasta e oculta fotos. Com a moderna tecnologia IPS (de In-Plane Switching), seu monitor de LED-LCD nos dá melhor imagem e ângulo de visão nítida muito mais amplo.
Com a adesão das editoras, poderá acessar jornais e revistas e armazenar dezenas de livros. Poderá, assim, atrair adultos que têm o hábito de ler em viagem, em férias, em qualquer lugar.
Com ele, estudantes poderão levar para o colégio ou universidade dezenas de livros de textos e dicionários, sem que isso pese um grama a mais em sua mochila. Além de tudo isso, será um computador portátil Apple.
AH, AS PREVISÕES!
Testemunhei, em Chicago, no dia 13 de outubro de 1983, a inauguração do primeiro serviço comercial de telefonia celular das Américas, lançado pela antiga AT&T. Fiz ligações num tijolão analógico instalado no automóvel, que pesava 7,5 quilos, custava algo próximo de 5 mil dólares e tinha uma bateria que só garantia 30 minutos de conversação fora do carro.
Dois repórteres bisbilhoteiros descobriram um estudo encomendado pela AT&T sobre o futuro do novo serviço, feito por duas famosas consultorias contratadas para analisar as perspectivas do telefone celular, como negócio e produto de massa. Sua conclusão: "o celular será, na melhor das hipóteses, um negócio medíocre, pois, em 20 anos, sua penetração máxima nos Estados Unidos não chegará a 15% dos usuários".
Não ria, leitor. Há coisas bem mais engraçadas, entre as previsões estapafúrdias feitas por gente famosa sobre o futuro de inovações. Em 1878, menos de dois anos depois da invenção do telefone por Graham Bell, William Preece, engenheiro-chefe do Correio Britânico (British Post Office), declarava ao jornal The Times: "Os americanos precisam do telefone. Nós, londrinos, não precisamos, pois temos aqui uma multidão de mensageiros".
Lord Kelvin, matemático e físico, presidente da British Royal Society, sentenciou em 1895: "O voo de máquinas mais pesadas do que o ar é impossível". Em 1939, Thomas Watson, presidente da IBM, fazia a mais surpreendente previsão de sua vida: "O computador não tem qualquer possibilidade de se tornar um produto industrial de interesse para a IBM".
Em 1977, Ken Olson, presidente e fundador da Digital Equipment Co. (DEC), fabricante de mainframes, nos legou outra pérola: "Não há qualquer razão para alguém querer ter um computador em casa". Dias depois, Steve Jobs lançava o Apple II, que vendeu mais de 20 milhões de unidades em todo o mundo.
Bill Gates nos deu preciosas contribuições. Em 1981, ele disse: "Ninguém precisa de um PC com memória RAM superior a 640 quilobits". Em 1984, outra declaração curiosa: "Nunca fabricaremos um sistema operacional de 32 bits". Em entrevista coletiva, em 2001, previu que o Tablet PC seria "o formato mais popular de PC a ser vendido nos Estados Unidos, nos próximos anos". O produto decepcionou.
A própria Apple amargou o fracasso em 1990, com seu primeiro computador portátil, o Mac Luggable, de 8 quilos. E não obteve sucesso com o tablet Newton, muito caro, lançado em 1993.

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